30 Outubro 2023

Você conhece o guia Calgary-Cambridge de comunicação com o paciente? Aprenda o método!

Não há dúvidas de que a boa comunicação é um dos segredos para o sucesso do relacionamento entre médicos e pacientes. Uma interação saudável promove o bem-estar e confiança, por isso, foi estruturado um modelo para construir relações positivas no ambiente médico, chamado de Guia Calgary-Cambridge.

O guia fornece aos profissionais de saúde orientações e roteiros conversacionais que transformam as interações com os pacientes em uma estratégia para acolher e atender melhor, o que amplia as chances de fidelização e contribuem para a construção de uma relação respeitosa. 

Neste artigo, mostraremos o que é e como surgiu o Guia Calgary-Cambridge. Falaremos também sobre a sua importância, objetivos, benefícios e estrutura. 

Boa leitura!

 

O que é e como surgiu o Guia Calgary-Cambridge?

Explicando de maneira simples, o Guia Calgary-Cambridge é um modelo estruturado de comunicação clínica desenvolvido para melhorar a comunicação entre médicos e pacientes. 

Sua aplicação é abrangente e se enquadra nas mais diversas interações entre profissionais de saúde e as pessoas atendidas, contudo, ele é especialmente aplicado no contexto de cuidados primários de saúde e educação médica

O guia foi criado de forma colaborativa pelas universidades de Calgary (no Canadá) e de Cambridge (no Reino Unido).

Na prática, o Guia Calgary-Cambridge é uma abordagem centrada no paciente - fazendo dele o centro da comunicação

Isso fica evidente durante a leitura do material, que enfatiza a importância de ouvir atentamente, compreender as preocupações e envolver pacientes no processo de tomada de decisão. 

Em resumo, o guia oferece os seguintes benefícios:

  • Divide a interação médico-paciente em etapas claras, fornecendo orientações específicas para cada uma delas;

  • Enfatiza a importância de compreender as preocupações e expectativas do paciente, bem como fornecer informações de maneira clara e compreensível;

  • Ajuda os profissionais a reconhecerem que cada paciente é único e tem necessidades individuais;

  • Oferece orientações para o desenvolvimento de habilidades de comunicação, como empatia, escuta e comunicação não verbal;

  • Pode ser utilizado em programas de educação médica para ensinar estudantes de medicina e profissionais de saúde a melhorar suas habilidades de comunicação.

A importância da comunicação médico-paciente para a atenção em saúde

A comunicação desempenha um papel essencial nos tratos do médico junto ao paciente. Por isso, é considerada uma das habilidades mais importantes que um profissional de saúde pode desenvolver.

Por meio de um diálogo empático e respeitoso se constrói uma relação de confiança. Quando os pacientes confiam em seus médicos, se tornam mais propensos a compartilhar informações honestas e seguir as orientações médicas. 

Na prática, os pacientes que compreendem suas condições de saúde e as recomendações recebidas têm mais tendência a aderir e seguir à risca o tratamento prescrito. 

O resultado dessa postura se reflete na recuperação, afinal, ao seguir as orientações recebidas com disciplina, há tendência de resultados efetivos no tratamento. 


Objetivos e benefícios da aplicação do modelo na entrevista médica

A aplicação do Guia Calgary-Cambridge na entrevista médica tem como objetivo principal melhorar a qualidade das interações

Dessa maneira, a comunicação se torna mais eficaz, transparente, centrada no paciente e orientada para resultados positivos

No quadro a seguir, os principais objetivos e benefícios do guia.

Objetivos da Aplicação do Modelo Calgary-Cambridge 
  • Facilitar a coleta de informações - o modelo melhora a capacidade de coleta de informações sobre a saúde do paciente, incluindo histórico médico, sintomas, preocupações e expectativas;
  • Estabelecer relação de confiança - busca estabelecer e fortalecer uma relação de confiança, criando um ambiente no qual o paciente se sente à vontade para compartilhar informações pessoais e preocupações;
  • Promover a tomada de decisões compartilhadas - o modelo visa envolver o paciente no processo de tomada de decisões sobre seu próprio cuidado, garantindo que ele compreenda as opções de tratamento, os riscos e benefícios, e participe ativamente na escolha do plano de tratamento;
  • Melhorar a adesão ao tratamento - ao comunicar claramente informações e orientações de tratamento, o modelo ajuda a melhorar a compreensão do paciente e, consequentemente, sua adesão ao tratamento;
  • Fornecer apoio emocional - inclui o fornecimento de apoio emocional, permitindo que o médico compreenda e responda às preocupações emocionais do paciente relacionadas à sua condição de saúde. 
Benefícios da Aplicação do Modelo Calgary-Cambridge 
  • Melhoria da qualidade da assistência - a aplicação do modelo resulta em uma comunicação mais eficaz, que contribui para um diagnóstico preciso e elaboração de um plano de tratamento adequado;
  • Satisfação do paciente - pacientes que têm experiências de comunicação positivas com seus médicos tendem a estar mais satisfeitos com o atendimento e são mais propensos a seguir as orientações;
  • Maior adesão ao tratamento - a compreensão clara das orientações de tratamento contribui para a adesão, o que é essencial para a recuperação;
  • Redução de erros médicos - uma comunicação eficaz ajuda a evitar erros de diagnóstico e tratamento, melhorando a segurança do paciente;
  • Melhoria da relação médico-paciente - o estabelecimento de uma relação de confiança beneficia tanto o médico quanto o paciente, tornando as interações mais satisfatórias e produtivas;
  • Menos litígios médicos - pacientes que se sentem ouvidos e respeitados são menos propensos a buscar ações legais, reduzindo o risco de litígios médicos;
  • Cuidados sensíveis - o modelo promove a compreensão das diferenças culturais, permitindo que os médicos forneçam cuidados específicos – de acordo com a cultura do paciente;
  • Melhor educação em saúde - os médicos podem usar o modelo para educar os pacientes sobre prevenção de doenças, autocuidado e detecção precoce de problemas de saúde;
  • Eficiência na comunicação - a estrutura do modelo ajuda os médicos a conduzir entrevistas de forma mais eficiente, economizando tempo e recursos. 

Conhecendo a estrutura: Check-list de Calgary Cambridge

O Check-list de Calgary-Cambridge é uma estrutura que norteia a entrevista médica, dividindo-a em etapas específicas para melhorar a comunicação com o paciente. A seguir, exibimos um gráfico e explicamos sobre cada uma dessas etapas.

o framework básico

O framework expandido

Um exemplo da inter-relação

Lista de problemas

Iniciando a consulta

  • Saudação e estabelecimento de Rapport – o médico inicia a consulta cumprimentando o paciente de forma amigável e respeitosa, criando uma atmosfera de confiança;
  • Identificação do papel – o profissional identifica seu papel como agente da saúde e incentiva o paciente a compartilhar suas preocupações e expectativas.

Obtenção de informações

  • História médica – é feita a coleta de informações detalhadas sobre o histórico médico do paciente, incluindo sintomas, problemas de saúde anteriores, tratamentos prévios e estilo de vida;
  • Sintomas atuais – o profissional explora e se aprofunda na compreensão dos sintomas atuais, incluindo sua duração, gravidade e fatores desencadeantes.

Exame físico

Se necessário, é realizado um exame físico completo e apropriado, no qual o médico explica cada um dos processos de análise para deixar o paciente mais confortável.

Explicações e planejamento

  • Comunicação clara – o médico fornece explicações claras sobre o diagnóstico, tratamento e prognóstico, usando linguagem acessível;
  • Planejamento de tratamento – as opções de tratamento são debatidas com o paciente, levando em consideração suas preferências e valores.

Providenciando a quantidade e o tipo corretos de informação

Nessa etapa, o profissional de saúde fornece informações na quantidade e no formato adequados, considerando a capacidade de compreensão e as necessidades do paciente.

Ajudando a lembrança acurada e o entendimento

  • Reforço da compreensão – o médico verifica se o paciente compreendeu as informações fornecidas, fazendo perguntas e incentivando-o fazer o mesmo;
  • Uso de materiais de apoio – se apropriado, o médico pode usar materiais visuais ou escritos para ajudar na compreensão e na lembrança das informações.

Atingindo um entendimento compartilhado

  • Tomada de decisões compartilhadas – o médico e o paciente trabalham juntos para tomar decisões sobre o plano de tratamento, levando em consideração as preferências e valores do paciente;
  • Confirmação de acordo – ambos os lados confirmam seu acordo sobre o plano de tratamento e quaisquer instruções, garantindo entendimento compartilhado.

Planejamento: tomada de decisão compartilhada

O médico deve incentivar a pessoa a expressar suas preferências e preocupações. Juntos, eles devem chegar a uma decisão que leve em consideração os valores e objetivos do paciente. 

Ao finalizar a consulta, o profissional precisa executar 2 procedimentos:

  • Faz um resumo das principais discussões e decisões da consulta, destacando os próximos passos e o plano de tratamento;
  • Encorajar o paciente a expressar quaisquer dúvidas ou preocupações adicionais.

Planejamento futuro

  • Agendamento de consultas futuras – se necessário, o médico agenda consultas de acompanhamento, exames ou procedimentos, explicando os motivos e a importância desses próximos passos;

  • Estabelecimento de expectativas – o médico e o paciente discutem o que esperar no futuro, incluindo qualquer possível progressão da condição médica, bem como as metas do tratamento.

Reforçando os pontos necessários para o fechamento


  • Revisão das instruções – o médico reforça instruções ou recomendações importantes que foram discutidas durante a consulta, garantindo que o paciente compreenda o que deve fazer a seguir;
  • Confirmação do acordo – o médico e o paciente confirmam novamente seu acordo sobre o plano de tratamento e quaisquer ações específicas envolvidas neste processo;
  • Despedida e agradecimento – a consulta é finalizada com uma despedida cordial e um agradecimento ao paciente por sua participação e colaboração;

  • Revisão das instruções – o médico reforça instruções ou recomendações importantes que foram discutidas durante a consulta, garantindo que o paciente compreenda o que deve fazer a seguir;
  • Confirmação do acordo – o médico e o paciente confirmam novamente seu acordo sobre o plano de tratamento e quaisquer ações específicas envolvidas neste processo;
  • Despedida e agradecimento – a consulta é finalizada com uma despedida cordial e um agradecimento ao paciente por sua participação e colaboração.

Tarefas longitudinais: Estruturando a consulta e construindo relacionamento

As tarefas longitudinais, de acordo com o modelo de Calgary-Cambridge, são fundamentais para estruturar a consulta médica e construir um relacionamento sólido ao longo do tempo.

Essas tarefas ajudam a garantir que a assistência médica seja centrada no paciente, abrangente e eficaz. Abaixo, mostramos as tarefas longitudinais em conformidade com o modelo de Calgary-Cambridge:

1. Estabelecendo e mantendo um relacionamento contínuo

Desde o início, o médico deve estabelecer um relacionamento de confiança e empatia com o paciente. A relação positiva deve ser mantida ao longo de todas as interações, criando uma base sólida para a comunicação.

2. Coleta de informações atualizadas

A cada consulta, o médico deve coletar informações atualizadas sobre a saúde do paciente, incluindo histórico médico, sintomas atuais e quaisquer mudanças significativas desde a última visita.

3. Monitoramento de condições crônicas

Para pacientes com condições crônicas, é necessário monitorar continuamente o estado de saúde, avaliar o progresso do tratamento, fazendo ajustes conforme necessário.

4. Revisão de resultados anteriores

O médico deve revisar resultados anteriores de exames, testes ou tratamentos explicando quaisquer alterações, melhorias ou desafios e discutindo as implicações.

5. Planejamento de tratamento a longo prazo

Juntamente com o paciente, o médico deve planejar o tratamento a longo prazo, estabelecendo metas realistas e estratégias para alcançá-las ao longo do tempo.

6. Educação continuada do paciente

É necessário fornecer educação contínua ao paciente sobre sua condição de saúde, tratamentos, medidas preventivas e mudanças no estilo de vida, promovendo a autonomia e o conhecimento da pessoa atendida. 

7. Avaliação da qualidade de vida

Periodicamente, o médico deve avaliar a qualidade de vida do paciente, levando em consideração aspectos físicos, emocionais e sociais, e ajustar o tratamento de acordo com essas avaliações.

8. Discussão de planejamento antecipado de cuidados

Para pacientes com doenças crônicas ou graves, o médico deve iniciar discussões sobre planejamento antecipado de cuidados, incluindo cuidados paliativos e decisões sobre o final da vida, se aplicável.

9. Promoção da adesão ao tratamento

O médico deve trabalhar com o paciente para garantir a adesão ao tratamento, identificar quaisquer objeções e fornecer suporte para superá-las.

10. Comunicação aberta e respeitosa

A comunicação ao longo do tempo deve ser aberta, respeitosa e centrada no paciente, permitindo que ele se sinta ouvido e envolvido nas decisões relacionadas à sua saúde.

Com certeza, o Guia Calgary-Cambridge é um aliado na boa prática médica. Ao seguir as orientações alistadas, os profissionais da saúde conseguirão oferecer o melhor tratamento e relacionamento para os seus pacientes.

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Infografico - O que é Guia Calgary-Cambridge

Perguntas frequentes:

O que é o guia Calgary Cambridge?

O guia Calgary-Cambridge é uma estrutura de comunicação médico-paciente amplamente reconhecida e criada de forma colaborativa pelas universidades de Calgary (Canadá) e de Cambridge (Reino Unido).

Quais as etapas de uma consulta médica segundo o guia?

O guia define as etapas de uma consulta médica, incluindo: estabelecimento de rapport, coleta de informações, exame físico, explicação e planejamento, compartilhamento de informações, confirmação do entendimento e encerramento da consulta.