A saúde mental dos profissionais da saúde foi tema bastante discutido durante a pandemia, afinal, a sobrecarga de trabalho e o contexto psicologicamente pesado foram dois dos principais desdobramentos para o setor clínico durante os anos de combate intenso ao coronavírus.
Apesar do fim da pandemia e a redução de casos devido à eficácia da vacina, é necessário continuar de olhos bem abertos para as condições psicológicas de médicos, socorristas e enfermeiros.
Dados recentes, publicados em um artigo da CNN Brasil, apontam que 86% dos profissionais de saúde sofrem com a síndrome do burnout (conhecida como síndrome de esgotamento profissional) e 81% apresentam níveis elevados de estresse.
Entre os motivos para esse cenário preocupante, estão o excesso de demandas e a carga horária excessiva.
A rotina de alta demanda e sobrecarga emocional impacta também na qualidade do sono e no desenvolvimento de sintomas de depressão, que são fatores nocivos para a saúde de qualquer ser humano.
Neste artigo, nós convidamos você - que é gestor ou administrador de clínica médica - a refletir sobre as formas de preservar e otimizar a saúde mental dos profissionais de saúde.
Confira em nosso texto quais são os principais fatores de estresse, os sinais manifestados em profissionais sobrecarregados (e que necessitam de atenção por parte dos gestores) e quais são as melhores formas para reduzir a ocorrência de problemas psicológicos na clínica.
Acompanhe!
De acordo com um estudo divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os anos de pandemia deixaram marcas na saúde mental das pessoas que atuam como médicos, enfermeiros, paramédicos e socorristas.
81,6% dos profissionais revelaram que sentiram alterações na saúde mental ao longo de todo o período pandêmico.
O resultado desse contexto atribulado se reflete nos índices de adoecimento, especialmente nos quadros de depressão.
Segundo o já mencionado artigo veiculado na CNN Brasil:
Embora exista o impacto da pandemia, não podemos desconsiderar o atual ambiente de trabalho e justificar as estatísticas apenas sobre o que ocorreu no mundo nos últimos 3 anos.
Mesmo após o fim da pandemia - algo que foi decretado pela OMS somente em maio de 2023 - 75% dos profissionais avaliam negativamente as demandas emocionais ligadas ao trabalho.
Mesmo após um período crítico, no qual o surgimento de doenças mentais foi, muitas vezes, o resultado de um esforço sobre-humano para salvar a maior quantidade de vidas possíveis, ainda é preciso se preocupar com os desafios para a saúde mental dos profissionais.
O fim de um período crítico não representou o fim das ameaças e condições favoráveis para o desenvolvimento de patologias de ordem psicossomática.
Portanto, gestores de unidades de saúde e clínicas médicas precisam buscar meios para que suas equipes consigam executar suas funções sem ficarem expostos a níveis de desgaste muito intensos.
O estudo “Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde”, publicado pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), resume bem por que a saúde mental está sempre “em xeque”.
De acordo com os dados, esses trabalhadores estão “na linha de frente” de todas as dificuldades vivenciadas no sistema de saúde nacional e sentem a todo o instante os impactos de uma rotina de trabalho atribulada e emocionalmente desgastante.
Veja quais são os principais fatores que desafiam a estabilidade emocional dos profissionais.
A carga de trabalho excessiva é um dos principais fatores de estresse enfrentados, uma vez que equipes médicas trabalham longas horas, enfrentam turnos noturnos e estão sujeitos a escalas imprevisíveis devido à natureza 24/7 da assistência médica.
Além disso, a necessidade de dar atenção constante aos pacientes leva à fadiga. Só quem já deu plantão em um hospital lotado sabe que, além do cansaço mental, a correria desafia o preparo físico.
Profissionais com a mente e o corpo cansados tendem a apresentar níveis de qualidade menores e dificuldades para equilibrar uma rotina pessoal e profissional adequada.
Sobre este segundo ponto, é importante lembrar que muitos médicos e enfermeiros - especialmente plantonistas - passam dias “dormindo picado” nos dormitórios (muitas vezes improvisados) de hospitais.
A falta de sono de qualidade gera desdobramentos negativos para a saúde física e mental, e quanto maior for a sobrecarga de trabalho, maiores são as chances do corpo clínico estar esgotado, sem o devido descanso e com altos níveis de estresse.
Os profissionais de saúde enfrentam decisões complexas e angustiantes em suas rotinas, isso ocorre em diversas funções e momentos.
Por exemplo, para um profissional que está tentando reanimar um paciente com massagem cardíaca, a decisão de parar e atestar o óbito é algo difícil e pesado, assim como comunicar à família sobre o falecimento.
Muitas pessoas acreditam que médicos são frios e tomam decisões sem sentir o peso, mas isso está longe de ser verdade.
O peso das decisões combinado com a responsabilidade de garantir o melhor tratamento e salvar vidas causa um peso emocional grande, que gera estresse, ansiedade, angústia e, muitas vezes, sofrimento.
Portanto, as decisões que precisam ser tomadas durante a rotina também são fatores que agravam quadros psicológicos.
Os profissionais enfrentam situações traumáticas, como acidentes, lesões graves ou morte de pacientes. Essas experiências podem ser emocionalmente avassaladoras e causar impactos duradouros na saúde mental.
Além disso, o contato com o sofrimento humano e a necessidade de fornecer apoio e cuidados em meio a tragédias pode resultar em traumas secundários, que ocorrem quando os profissionais internalizam o sofrimento de seus pacientes.
A pressão do tempo e dos prazos apertados é uma realidade comum no campo da saúde. Os profissionais estão sempre correndo contra o relógio para atender às necessidades dos pacientes, realizar procedimentos médicos ou administrar tratamentos.
Essa pressão pode ser estressante, afetando a tomada de decisões e a qualidade do atendimento. Além disso, a urgência do ambiente de saúde pode levar à exaustão, aumentando o risco de erros médicos.
Os profissionais de saúde têm expectativas pessoais e profissionais de fornecer o melhor cuidado possível aos pacientes.
Isso pode resultar em uma busca constante pela excelência e no medo de cometer erros. Esse medo de não atender aos padrões esperados, pode criar uma pressão constante e aumentar o estresse.
Os profissionais de saúde enfrentam uma variedade de distúrbios mentais, assim como qualquer outra pessoa. No entanto, devido às pressões únicas e ao estresse associado ao campo da saúde, alguns distúrbios mentais podem ser mais prevalentes entre esses profissionais.
Os principais distúrbios mentais incluem:
O estresse crônico e o esgotamento profissional (burnout) são comuns entre os profissionais de saúde. Isso pode levar a sintomas de ansiedade, depressão e fadiga extrema.
Profissionais de saúde podem experimentar ansiedade devido às pressões do trabalho, tomada de decisões difíceis, exposição a situações traumáticas, altas expectativas profissionais e pessoais.
A depressão é outra preocupação, frequentemente relacionada ao estresse crônico e à exaustão emocional. Os sintomas podem incluir tristeza persistente, falta de energia e perda de interesse nas atividades diárias.
Os profissionais de saúde que enfrentam situações traumáticas no trabalho, como acidentes graves ou perdas de pacientes, podem desenvolver TEPT, que gera sintomas como flashbacks, pesadelos e hipervigilância.
O estresse e a exaustão podem levar alguns profissionais de saúde a recorrer ao abuso de substâncias, como álcool ou drogas, como uma forma de lidar com o estresse e a pressão.
Os distúrbios alimentares, como anorexia e bulimia, também podem surgir como desdobramentos de uma rotina de alto estresse e desgaste físico e mental.
Os turnos irregulares e a carga de trabalho pesada podem afetar o sono dos profissionais de saúde, levando a distúrbios como a insônia e irritabilidade constante.
A saúde mental dos profissionais de saúde pode ser comprometida de várias maneiras, portanto, identificar os sinais de alerta é fundamental para oferecer o apoio necessário.
Em seguida, elencamos cinco sinais de alerta que indicam que a saúde mental de um profissional pode estar comprometida.
Ansiedade e depressão
Entender como lidar com doenças mentais no trabalho, é essencial para preservar o bem-estar pessoal e a qualidade do atendimento aos pacientes. A seguir, elencamos as principais estratégias para melhorar a saúde mental desses profissionais.
Enfim, a saúde mental é uma parte essencial do bem-estar. Sendo assim, as instituições devem criar uma cultura de apoio à saúde mental no local de trabalho, onde a busca por ajuda é incentivada. Essa prática será benéfica para tanto para os profissionais de saúde quanto para os pacientes.
A saúde mental é vital, pois afeta o desempenho no trabalho, a qualidade do atendimento e o bem-estar do profissional.
Ter saúde mental no trabalho significa manter um estado emocional saudável, lidando eficazmente com o estresse e mantendo um equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
A área da saúde que mais sofre com problemas emocionais é a enfermagem, devido ao contato direto com pacientes em situações delicadas e à carga de trabalho exigente.