Se você se preocupa com a qualidade do atendimento em sua clínica e gosta de refletir sobre a própria profissão, então você precisa conhecer a Slow Medicine.
Apesar de recente, o movimento está ganhando espaço dentro da comunidade médica e acadêmica.
Talvez o motivo dessa adesão seja que a filosofia por trás dessa tendência defende o resgate dos valores mais essenciais da medicina que podemos verificar já em Hipócrates.
Ao mesmo tempo, o movimento reúne uma série de conceitos atuais que também estão no horizonte de muitos profissionais, como a medicina humanizada e o cuidado centrado no paciente.
Continue a leitura deste artigo para entender mais sobre a Slow Medicine e descubra como ela está se desenvolvendo como o futuro da medicina!
Também conhecida no Brasil como medicina sem pressa, trata-se de uma filosofia de trabalho que visa resgatar o paciente como centro dos cuidados. Neste sentido, o fator tempo tem mais a ver com a atenção dispensada ao paciente do que com a duração das consultas.
A Slow Medicine se contrapõe à prática médica atual e predominante em que os profissionais atendem muitos pacientes por dia, sem conseguir estabelecer uma conexão com eles.
Muitas vezes, o médico está tão preocupado com a objetividade de seu trabalho e suas demandas burocráticas que a parte humana do atendimento se perde pelo caminho. Dessa forma, há uma ênfase excessiva na dimensão biológica do paciente que torna a relação médico-paciente mecanicista e impessoal.
Características que afetam diretamente na qualidade dos atendimentos e, como consequência, na satisfação dos pacientes. É justamente nesses dois pontos que o conceito Slow Medicine se coloca como um novo paradigma, tornando-se uma forte tendência para a medicina do futuro.
O conceito de Slow Medicine integra um conjunto de ideias que estão ganhando força no setor de Saúde, isto é:
Essas ideias representam um resgate da forma ideal de conduzir a assistência à saúde. Ou seja, a perspectiva de que a arte de cuidar se baseia em um sólido relacionamento com o paciente.
Neste sentido, a questão do tempo é uma parte essencial para a Slow Medicine, não só no sentido de ouvir ativamente o paciente durante a consulta, como também no acompanhamento do profissional ao longo de sua vida.
A Slow Medicine surgiu na Itália a partir da inspiração nos pressupostos de outro movimento, o Slow Food.
Em 1986, um grupo de manifestantes protestou contra a inauguração de um restaurante do tipo fast food na Piazza de Spagna em Roma. Esse protesto, liderado pelo jornalista e ativista Carlo Petrini, deu origem ao movimento Slow Food.
A ideia era resgatar a cultura gastronômica italiana, desde a produção local dos alimentos tradicionais até o ato de se alimentar de forma mais devagar para saborear a comida.
Mais tarde, em 2002, o cardiologista italiano Alberto Dolara, publicou um texto intitulado Invito ad una “slow medicine” (Convite à Slow Medicine) . No artigo, o autor comenta que o aceleramento dos diversos aspectos da vida na sociedade atual leva ao nascimento de movimentos que se contrapõem a essa tendência.
Então ele apresenta, como exemplo, a oposição entre fast food e slow food, propondo que um conceito análogo poderia ser criado na área médica, isto é, a Slow Medicine.
Não demorou muito para que outros autores também se dedicassem a desenvolver o novo conceito. Em 2008, por exemplo, o médico geriatra, Dennis McCullough, lançou o livro My mother, your mother (Minha mãe, sua mãe).
Nesta obra, que é considerada um dos marcos teóricos da Slow Medicine, McCullough demonstra a aplicação do conceito aos cuidados com os idosos. Principalmente no que diz respeito à ênfase a um cuidado humanizado, salientando a importância da educação dos parentes e cuidadores.
Assim como essa obra, surgiram outras para mostrar os benefícios dessa filosofia para diferentes especialidades da medicina. Desse modo, o movimento começou a receber adeptos de diversos países, como França, Holanda, Canadá, Estados Unidos e Brasil.
No Brasil, a divulgação dessa filosofia está sendo realizada pelo portal Slow Medicine Brasil. O site é administrado por um grupo de médicos que publicam textos e reflexões sobre a abordagem slow nas mais diversas especialidades da medicina.
O grupo é bastante ativo nas redes sociais, realizando lives no YouTube e podcasts que abordam os desafios da medicina sob o ponto de vista da Slow Medicine.
O movimento também está presente nas universidades na forma de ligas acadêmicas. Os três primeiros grupos desse tipo que surgiram no Brasil são:
Em 2020, essas três ligas realizaram a primeira jornada de Slow Medicine do país, com o apoio do Slow Medicine Brasil. Desde então, o número de ligas desse tipo vem aumentando.
Outro acontecimento que mostra a consolidação do movimento no Brasil foi a publicação do livro, De mãos dadas: O olhar da slow medicine para o paciente oncológico, de Ana Coradazzi, em 2021.
A autora é integrante do movimento no Brasil e também escreve para o portal Slow Medicine Brasil. Em seu livro, Ana Coradazzi mostra como a abordagem slow tem um impacto positivo na vida de pacientes com câncer e seus familiares.
Quando a primeira sociedade da Slow Medicine foi fundada em 2011, na Itália, seus integrantes produziram um manifesto baseado em três princípios. Segundo eles, a medicina deve ser Sóbria, Respeitosa e Justa.
Este princípio quer dizer que a medicina necessita de moderação, ou seja, nem sempre fazer mais significa fazer melhor.
Neste sentido, os serviços de saúde devem focar no que é essencial e implementar as ações de forma gradual. Assim, evita-se situações como, o desperdício de recursos e pedido de exames desnecessários.
A medicina deve reconhecer que as pessoas são diversas em seus valores, expectativas e desejos. Logo, os profissionais da saúde precisam agir com atenção e respeito para levar em consideração as preferências dos pacientes.
A medicina deve promover os cuidados adequados às pessoas e suas circunstâncias, combatendo as desigualdades para que todos tenham acesso a serviços de saúde de qualidade.
Enquanto os três pilares surgiram com a redação do manifesto da Slow Medicine elaborado pelo grupo italiano, os dez princípios foram propostos pelo grupo da Holanda. Confira abaixo quais são eles:
Tomar decisões dedicando tempo para ouvir, entender e refletir. As decisões são melhores quando o médico dedica tempo e atenção ao paciente.
Reconhecer a individualidade das pessoas. O paciente é o foco da atenção e seus valores e preferências devem ser respeitados.
As decisões não são unilaterais, mas compartilhadas. O médico deve levar em consideração as expectativas, valores e preferências do paciente, envolvendo também seus familiares, amigos, etc.
Entende-se que o conceito de saúde da OMS, como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades” precisa ser superado.
No lugar dele, entra o conceito positivo de saúde que seria a habilidade de se adaptar e autogerir em face aos desafios físicos, emocionais e sociais da vida.
Promover os bons hábitos que garantem uma vida saudável, tais como uma alimentação balanceada, atividades físicas regulares, pensamento positivo e flexibilidade mental.
A qualidade deve vir antes da quantidade, pois nem sempre fazer mais significa fazer melhor. Também é preciso ter a sabedoria da observação clínica para saber quando não intervir.
Utilização da medicina tradicional sempre que indicada e da medicina complementar sempre que possível. Evitar metáforas que falem de luta ou guerra contra a doença, em vez disso as palavras de ordem são recuperação, equilíbrio e harmonia.
Lembrar do juramento de Hipócrates: “Em primeiro lugar não causar mal. Em dúvida, abstenha-se de intervir.”
Busca incansável pela humanização dos cuidados à saúde, resgatando a paixão pelo cuidar e o sentimento de compaixão na prática médica.
A tecnologia deve ajudar a pessoa no autocuidado e o médico a tomar as melhores decisões para melhorar a qualidade de vida de seus pacientes.
O site Slow Medicine Brasil apresenta uma seção onde propõe quais as características necessárias para ser um médico slow. Confira a seguir, as principais delas:
À primeira vista, poderíamos pensar que o movimento se contrapõe ao uso da tecnologia na medicina. Contudo, o conceito de Slow Medicine não implica em uma negação das ferramentas tecnológicas.
Em vez disso, o movimento defende que a tecnologia deve ser utilizada de forma racional e parcimoniosa.
Também vale a pena considerar que o tipo de tecnologia a que o movimento se refere são aquelas que podem representar algum tipo de risco ao paciente, como cirurgias complexas, medicamentos com efeitos colaterais excessivos, etc.
A partir dessas ponderações, o profissional garante o equilíbrio de sua proposta terapêutica, promovendo alternativas menos invasivas.
Ou seja, a Slow Medicine reconhece o valor da tecnologia, sem deixar de lado outros elementos da prática médica, sobretudo aqueles que se referem à relação entre médico, paciente e familiares.
Neste sentido, existe uma série de ferramentas que, inclusive, ajudam na prática dos princípios da Slow Medicine. Como, por exemplo, a Telemedicina que ajuda a aproximar o médico do paciente.
Afinal, como os pacientes fazem a consulta a partir de casa, o profissional pode entender melhor o seu contexto e ambiente, além de oferecer uma opção mais cômoda para aqueles atendimentos que não necessitam da presença do paciente.
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Trata-se de uma filosofia de trabalho que visa resgatar a prática clínica em que o paciente é o centro dos cuidados. Neste sentido, o fator tempo tem mais a ver com a atenção dispensada ao paciente do que com a duração das consultas.
A Slow Medicine surgiu na Itália em um artigo do cardiologista italiano, Alberto Dolara, que se inspirou nos pressupostos de outro movimento, o Slow Food.
Se baseia em três princípios que defendem que a medicina deve ser Sóbria, Respeitosa e Justa.