21 Fevereiro 2022

O que são cuidados paliativos e quando recomendar aos pacientes?

Os cuidados paliativos são práticas que ainda precisam evoluir bastante no Brasil, mas que obtiveram um crescimento importante nos últimos anos.


São poucos os cursos de Medicina que dedicam uma disciplina a esse assunto. No entanto,   para saber mais sobre ele, é preciso realizar suas próprias pesquisas.


Neste post, vamos te ajudar a compreender mais sobre esse assunto e estar preparado para recomendar os cuidados paliativos a um paciente. Siga a leitura!


O que são cuidados paliativos?


Os cuidados paliativos são recomendados para pessoas com doenças graves que trazem risco à vida, ou quando não há mais possibilidade de cura.


Seu objetivo é proporcionar qualidade de vida ao paciente até os seus últimos momentos, diminuindo tanto o seu sofrimento quanto o de sua família.


Os especialistas em cuidados paliativos classificam o sofrimento dos pacientes em 4 (quatro) esferas:


  1. Esfera física: é a esfera de sofrimento causado pelos sintomas da doença no corpo da pessoa;
  2. Esfera psicológica: medo do sofrimento e da morte, ansiedade causada pela antecipação da dor;
  3. Esfera espiritual: dúvidas sobre sua fé, sentimento de culpa e busca para entender a razão disso estar acontecendo;
  4. Esfera social: mudança no papel da família e sociedade, preocupação financeira com pendências e planos futuros; medo do julgamento do outro.


Um profissional sozinho dificilmente conseguiria atuar em todas essas esferas. Por este motivo, os cuidados paliativos precisam de uma equipe multidisciplinar para trabalhar em cada aspecto.


O crescimento da adoção de cuidados paliativos


A área dos cuidados paliativos no Brasil ainda é recente e tem muito a evoluir. 


De acordo com um levantamento global realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2014, o Brasil ficou entre os países em que a assistência paliativa estava disponível apenas de maneira isolada.


No entanto, houve uma significativa melhora nos últimos anos. Principalmente porque os cuidados paliativos começaram a se tornar parte da política pública nacional.


Em 2018, houve uma resolução do Ministério da Saúde (MS) para organizar os cuidados paliativos do âmbito do SUS. 


Nesse mesmo ano, havia 177 serviços de assistência paliativa. Em 2019, este número subiu para 190. Este é um aumento que merece comemoração, mas ainda há muito a ser melhorado.


Ainda assim, existem outros dados que mostram o crescimento da adoção dos cuidados paliativos no Brasil. 


Segundo o levantamento mundial mais recente, o Brasil subiu para a categoria dos países que oferecem esses serviços de forma generalizada. 


Além disso, as fontes de financiamento aumentaram, assim como a disponibilidade de morfina e centros de treinamento.


O próximo ponto que ainda precisa evoluir é a integração aos sistemas de saúde, aliado a um entendimento dos profissionais e da sociedade sobre a temática.


9 princípios da qualidade em cuidados paliativos 


Em 1986, a OMS publicou os princípios de atuação para equipes multiprofissionais de cuidados paliativos. Eles foram reafirmados em 2002: 


1. Aliviar a dor 


O alívio da dor deve ser prioridade. Ela deve ser tratada tanto por meio de prescrição de medicamentos quanto por adoção de medidas não farmacológicas.


Isso porque a dor aqui não é apenas física. Logo, é preciso de uma abordagem que englobe também os aspectos psicológicos, sociais e espirituais.


Esses fatores contribuem para a atenuação dos sintomas, se trabalhados em conjunto.


2. Afirmar a vida


A medicina não pode ser entendida como uma luta contra a morte, mas sim uma forma de promover a vida em plenitude.


Nesse sentido, os cuidados paliativos consideram a morte como um evento natural e já esperado na presença de uma doença grave. Entretanto, coloca ênfase na vida que ainda pode ser aproveitada.


3. Não antecipar ou adiar a morte 


Os cuidados paliativos não estão relacionados com a eutanásia. 


A confusão causa decisões erradas quanto à realização de intervenções desnecessárias e torna difícil estabelecer terapias para pacientes com doenças progressivas.


Um diagnóstico bem embasado, junto a um acompanhamento acolhedor e a uma relação empática com o paciente, ajudam nas decisões do médico, evitando equívocos. 


4. Integrar aspectos psicológicos e espirituais


A doença que ameaça a continuidade da vida traz uma série de perdas com as quais o paciente e a família se veem obrigados a conviver, mesmo sem estar preparados. 


Perdas relacionadas a autonomia, autoimagem, capacidade física; ou materiais, como emprego e poder aquisitivo, causam angústia e desesperança.


Tais fatores interferem na evolução da doença e na intensidade dos sintomas. Por esta razão, a abordagem psicológica é fundamental. 


Com efeito, estas questões também podem ser abordadas pela ótica da espiritualidade. 


Esta dimensão associa as perdas a questões existenciais, como o significado da vida e o porquê de estar passando por esse momento.


5. Ajudar o paciente a viver tão ativamente quanto possível


Os pacientes não podem desperdiçar tempo com tratamentos que não melhorem a sua saúde e o seu bem-estar. 


Assim sendo, não se trata de prolongar a vida a qualquer custo. Em vez disso, os cuidados paliativos devem ajudar os pacientes a vivê-la ativamente.


6. Auxiliar os familiares durante a doença e o luto


A identidade do ser humano é formada a partir da família. Por isso, é preciso respeitar todos os aspectos que fazem dela um universo cultural único, que pode estar distante dos valores dos profissionais da saúde.


A família deve ser vista como parceira e colaboradora. Dado que ela conhece o paciente melhor do que a equipe e entende os seus desejos, angústias e necessidades - mesmo quando não verbalizado.


Além disso, a família também passa por um grande sofrimento com o vazio que a pessoa deixa e deve ser acolhida no momento do luto. 


7. Abordar de forma multiprofissional


A integração entre outras áreas é uma forma de observar o paciente em todas as suas dimensões.


Elas são importantes na composição do seu perfil para a elaboração de uma proposta de cuidados. Sem considerar essas dimensões, a avaliação seria incompleta e a abordagem menos eficaz. 


Além disso, o cuidado deve se estender ao luto dos familiares e ser realizado por toda a equipe, possibilitando uma visão mais abrangente do processo. 


8. Melhorar a qualidade de vida


Trate o paciente lembrando-se de que ele possui uma história de vida para além do aspecto biológico. Isto é, é importante como forma de respeitar suas questões e, assim, melhorar o curso da doença.


9. Iniciar os cuidados o mais precocemente possível


A abordagem precoce permite a prevenção dos sintomas e complicações da doença. 


Ela ainda propicia o diagnóstico e tratamento adequado de outras doenças que possam surgir, decorrentes do quadro do paciente. 


Uma boa avaliação, embasada em exames, é indispensável para a elaboração de um plano de assistência paliativa.


Como os cuidados paliativos agem na dor do paciente?


A princípio, os cuidados paliativos agem em todas as esferas de dor do paciente por meio da atuação da equipe multidisciplinar.


Na esfera física, são administrados medicamentos que reduzem a dor e os sintomas desagradáveis da doença.


Já na esfera psicológica, os profissionais atuam para tratar a ansiedade e a depressão do paciente, trazendo mais equilíbrio emocional.


Mais do que isso, o cuidado com o aspecto espiritual ajuda o paciente a dar um sentido para tudo o que ele está passando e diminui os seus medos.


Por fim, a questão social é tratada oferecendo suporte à família que, guardadas as devidas proporções, "adoece" com o paciente. 


Aqui, as dores compartilhadas obtêm a atenção da equipe, que busca formas de tornar o processo menos doloroso.


Quando recomendar cuidados paliativos?


Os cuidados paliativos devem ser recomendados logo após o diagnóstico de uma doença que ameaça a vida.


Essa abordagem irá auxiliar no processo de tomada de decisão dos pacientes e familiares sobre os recursos terapêuticos disponíveis.


Se a doença já estiver em estado avançado, os cuidados devem atuar em conjunto com as medidas de prolongamento da vida, como a radioterapia e a quimioterapia.


O início precoce dos cuidados paliativos é necessário para oferecer a devida assistência em todos os estágios da doença.


Benefícios dos cuidados paliativos à saúde 


Uma frase comum entre os profissionais que se dedicam a essa área diz que sua função é adicionar mais vida aos dias.


Desse modo, os cuidados paliativos são essenciais para aumentar a qualidade de vida dos pacientes e familiares, diminuindo a depressão e a ansiedade.


Outro benefício é que os profissionais ajudam a mediar as relações entre o paciente e seus familiares. Em um momento tão delicado, às vezes é difícil se comunicar com clareza.


Há relatos em que os familiares ficaram receosos ao dar a notícia da doença para evitar o sofrimento. Então, eles pediram aos médicos para não informar o paciente sobre o diagnóstico. 


O paciente, por outro lado, conhece sua condição e não consegue contar o que já sabe. São em momentos como esse que os cuidados paliativos se mostram muito benéficos. 


Uma vez que a equipe atua para solucionar estes problemas, tornando a comunicação entre familiares e pacientes mais fluida.


Como você viu, os cuidados paliativos são muito importantes para este momento tão difícil na vida das pessoas.


Fica claro que uma parte importante desse processo é a precisão do diagnóstico, pois ele servirá de base para o encaminhamento do paciente aos cuidados paliativos.


Para fazer bons diagnósticos, é preciso organização no preenchimento das informações sobre as queixas do paciente.
Por isso, não deixe de baixar nossos modelos de anamnese gratuitos que vão te ajudar a recolher esses dados corretamente.

Perguntas frequentes:

O que são cuidados paliativos?

São um conjunto de cuidados destinados a pessoas com doenças graves, que ponham em risco a continuidade da vida.

Quais são os princípios da qualidade em cuidados paliativos?

Aliviar a dor, afirmar a vida, não antecipar nem adiar a morte, integrar os aspectos psicológicos e espirituais, ajudar o paciente a viver  ativamente, abordar de forma multiprofissional, melhorar a qualidade de vida e iniciar os cuidados precocemente.

Quando recomendar cuidados paliativos?

Assim que o paciente for diagnosticado com uma doença grave que ameace a sua vida.